Dez trabalhadores que não tiveram oportunidade de concluir estudos estão aprendendo a ler e escrever com ajuda da empresa.
A Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis (Comdep) busca formas de valorizar o corpo de funcionários. Uma delas é promovendo a educação dele. Dez trabalhadores que não concluíram os estudos na época certa têm agora oportunidade de aprender a ler e escrever, fazer contas matemáticas e todo conhecimento mais que deveriam ter adquirido quando crianças. A empresa mantém uma turma de EJA (Educação de Jovens e Adultos) nas próprias dependências e isso dá a eles novas perspectivas de vida.
Um desses alunos é Flávio Lennerdz, de 54 anos. Ele está na empresa há 35 e faz varrição no Alto da Serra. Todos os dias, após encerrar o serviço, ele vai para o Quitandinha, para as aulas. Quando jovem, tinha o sonho de ser piloto de avião, mas sem completar os estudos, a vida tomou um rumo bem diferente. Agora, tem a certeza de que o que aprende hoje em dia poderá dar um futuro mais tranquilo.
“Sonho me aposentar e ir morar no Nordeste onde tenho parte da minha família. Com certeza vou sair daqui da escola e poder viver lá”, diz. A confiança nisso se dá porque agora está começando a ler, somar e subtrair, conhecimentos simples, mas que fazem a diferença na vida de qualquer pessoa.
Mesmo com pouca escolaridade, ele sabe disso. Tanto que tenta chamar mais colegas de trabalho para a “escola”. Ele inclusive conseguiu convencer Miriam Rodrigues de Araújo, que também faz varrição, mas no Centro, a entrar no curso. Com 50 anos e 18 deles trabalhando na Comdep, ela parou de estudar após ficar triste por perder o material escolar. Mesmo voltando à carteira escolar há apenas um mês, ela já pensa em ir além.
“Estudar é muito bom, deixa a mente aberta. Minha escrita melhorou, minha leitura melhorou. Quando era pequena, eu queria ser desenhista e aprender a tocar violão. Agora, estou voltando a ter vontade de fazer essas duas coisas”, conta. Ela é outra que tenta mobilizar mais estudantes – e reconhece que é difícil trabalhar o dia inteiro e estudar à noite, mas ressalta que “tem que ter força de vontade”.
Desde março, eles são acompanhados pela professora Jussara Gatto Justen. Com 24 anos de rede pública de ensino, ela dava aulas para crianças até o final do ano passado e voltou agora a lecionar para adultos. A diferença, na opinião dela, é que os mais velhos precisam aprender coisas práticas, que vão usar no dia a dia, para ter autonomia. Por isso, também tem responsabilidade maior e mais empenho.
“Essa turma é especial, apaixonante, porque cada um aqui tem uma vida difícil, um trabalho árduo. São pessoas simples, que necessitam desses aprendizados. Eu vejo que eles gostam de retomar essa ideia de ir para a escola e isso demanda uma sensibilidade maior minha. Com eles, a afetividade é primordial para um bom resultado”, explica a professora.
Ela conta com todo material didático e lanche para os alunos que é fornecido pela Comdep. A sala tem capacidade para 15 alunos, com armários individuais para guardar os cadernos dos alunos. Também estão disponíveis oito computadores que serão usados para ensino de noções básicas de computação. As aulas acontecem de segunda à sexta, com quatro horas por dia. O curso dura três anos e meio e equivalente aos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano).
O presidente da Comdep, Wagner Silva, lembra que o curso de alfabetização não é a única forma de valorização dos trabalhadores.
“Nesses quatro meses, nós trabalhamos para honrar dívidas que foram deixadas com os funcionários no ano passado. Pagamos mais de R$ 360 mil que não foram pagos referentes a pensões e parcelas de consignados. Esse curso de alfabetização é uma forma de dar a esses trabalhadores uma perspectiva para o futuro, dar a eles uma oportunidade para melhorarem e ter uma nova vida. É um resgate da cidadania e uma forma de levantar a estima deles”, afirma.