Há dois anos o artista plástico André Luís Gross viu sua vida ficar mais vazia com a perda da filha, à época com apenas 16 anos de idade, em um acidente de trânsito no bairro Independência. Paloma estava em um carro com outras seis pessoas, saiu andando do veículo após a colisão, mas não chegou viva ao hospital. Para a família da adolescente ficou uma ferida que jamais será cicatrizada e o apelo para que nenhuma outra pessoa passe por dor semelhante. O depoimento de André foi um dos quatro que emocionaram o público que lotou o Theatro D. Pedro durante a abertura do Maio Amarelo na noite de terça-feira (02/05). O evento marca o início das atividades de conscientização no trânsito. As ações, que visam reduzir a violência no trânsito, se estenderão durante todo o mês e começam nesta quinta-feira em palestras nas escolas.
“Recebemos uma ligação às 2h da madrugada dizendo que minha filha tinha se acidentado. Passamos na casa da família de uma amiga que estava com ela para avisar, sem saber a gravidade do que tinha acontecido. Minha filha não resistiu. É uma dor que não desejo nem para o meu pior inimigo. Se hoje estou de pé é porque tenho outros dois filhos. É por eles que sigo. E por isso eu peço aos jovens, as autoridades e a todas as pessoas que tenham consciência no trânsito. Nós estamos perdemos nossos entes queridos por conta de imprudência e irresponsabilidade”, pediu André, emocionado, em seu depoimento.
O problema apontado por André é comprovado pelas estatísticas. Dados da Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans), referentes a 2016, apontam 1.797 acidentes ao longo do ano. Esse número, embora seja menor que em 2015, quando foram registrados 1.962 atendimentos, ainda está longe de ser motivo para comemoração, já que a redução no número de vítimas foi de apenas 18. Em 2016 foram1.521, e em 2015, 1.539 pessoas que se sofreram acidentes de trânsito. Só este ano, dados da Hospital Santa Teresa – referência em trauma no município - aponta que houve 257 entradas de pessoas vítimas de acidentes trânsito. Só o Corpo de Bombeiros registrou 146 atendimentos. Destes dois foram de capotagem, 41 de colisão, um de queda de veículo e 11 de queda de motos.
Para o diretor-presidente da CPTrans, Maurinho Branco, é necessário que esse tipo de ação seja tratada de maneira prioritária. “Sociedade civil, governos, empresas, todos temos papel fundamental no trânsito. Precisamos fazer nossa parte para frear essas estatísticas, para que pais e mães não percam seus filhos de maneira brutal. A CPTrans tem que fazer sua parte fiscalizando, olhando para que o está errado e, claro, punindo as infrações, porque, infelizmente, para muitas pessoas a consciência só acontece quando começa a doer no bolso. Mas, antes de tudo e sobretudo, o mais importante é que as famílias sejam conscientes, que as pessoas corrijam umas às outras em atitudes que possam colocar a vida de todos em risco”, destaca.
Esse tipo de consciência só foi adquirida por Fábio Magest Filgueiras após um acidente de moto o ter feito parar em uma cadeira de rodas. Com um sorriso no rosto ele diz que não pode servir de exemplo para ninguém, porque arriscou sua vida e de outras pessoas. “Eu peguei a moto depois de beber, coloquei o capacete do braço e agora estou aqui. Aprendi da pior forma possível o que a minha imprudência pode causar. Hoje eu sigo alertando a quem posso e mostro como nossas ações podem salvar vidas. Faço isso sorrindo porque, apesar de tudo, estou vivo”, conta.
O jovem Luiz Fernando Rentes Louzada também foi parar em uma cadeira de rodas, mas por imprudência de um motorista que o atingiu na traseira da motocicleta que pilotava. Luiz bateu em um poste e fraturou a coluna. O episódio aconteceu recentemente, no dia 24 de fevereiro, quando o jovem saiu, com todos os equipamentos de segurança para trabalhar. “A pessoa que fez isso não levou só os meus sonhos, também levou daquelas pessoas a minha volta. É claro que hoje tenho outros, que precisei reconstruir minha vida, mas é muito triste o que aconteceu. Espero que as pessoas mudem a forma como lidam com o trânsito”, declarou.
Já Maria Helena Rabelo Portugal lembra com saudade da filha Mirela, que morreu há 10 anos atropelada por um carro, que, segundo laudo pericial estava a 120 km/h. O caso foi o primeiro cujo responsável foi condenado por um crime de trânsito como um crime de homicídio de dolo eventual (quando o autor assume o risco do resultado). Mesmo após a condenação, Maria Helena luta para que outras pessoas não passem pela mesma dor. “Até hoje quando ouço a sirene dos bombeiros fico com o coração na mão. O que eu passo, não desejo para mãe nenhuma. É por isso que clamo para que as pessoas tenham esse cuidado”, disse.
A abertura do evento contou a presença do vice-prefeito Baninho, representando o prefeito Bernardo Rossi, do presidente da Câmara dos vereadores, Paulo Igor, do secretário de Transportes de Magé, Amisterdan Santos Viana, além de secretários de governo e outras autoridades.
As atividades do Maio Amarelo incluem uma grande caminhada pela vida, encerrando as ações, no dia 27 de maio. Entres os destaques da programação está a simulação do Corpo de Bombeiros, às 17h, no entorno da Praça D. Pedro. Haverá também inspeção veicular e cristalização de para-brisas, serviços que serão oferecidos gratuitamente pela Porto Seguros, no Centro e em Itaipava. A programação completa e está no site da prefeitura: www.petropolis.rj.gov.br.